Porto Alegre, 31 de dezembro de 2008.
2008, amigo velho
Lá mesmo esqueci que o destino sempre me quis só
Eu ando bem, obrigado. Mais sozinho e menos solitário, por incrível que pareça. Estar só para mim tem sido um reencontro misterioso. Entendi, com uns trancos seus, que sempre fui assim e desisti de querer ser diferente para me enquadrar na multidão. A minha natureza sozinha, você já deve ter percebido, não faz de mim infeliz. Faltava mesmo era eu enxergar, coisa que eu fiz muito nestes seus dias sorrateiros. Obrigado, mil vezes obrigado, meu velho.
A uma hora dessas, por onde andará seu pensamento?
E você, já está de malas prontas? Deve ser difícil partir assim com hora marcada, um pouco em cada lugar do mundo e receber vários adeus, graças a Deus, ser dispensado de forma tão desumana. Em Pequim, Berlim ou aqui no Bonfim, o povo estourando espumante barato, já com a vassoura atrás da porta, com aquela cara de idiota, achando que tudo será diferente e melhor, sem qualquer esforço. Dizem que a culpa é sua das coisas não terem dado assim tão certo. Não repare, amigo, as pessoas são assim mesmo.
Saia dessa vida de migalhas
É difícil ouvir o coração da gente ao cair da tarde, especialmente porque esta é a hora mais estranha do dia, ainda não é noite e também não é mais tarde. É como ter trinta e poucos anos e sentir que chegou a hora de construir alicerces que já deveriam ter sido erguidos anos antes. É o momento que nos impõe as obrigações de preparar o terreno para a noite chegar, fazer o que tem de ser feito, as compras, o banho, colocar o lixo na rua, responder os telefonemas perdidos. Você fez isto com tanta naturalidade que me dá até inveja, sabia?
Observe tudo embaixo ser menor do que você, como tudo é
E quando aquele clarão dos fogos iluminar o céu, estaremos já meio embriagados à espera do primeiro dia de janeiro, pequenos, muito pequenos, você há de nos olhar lá de cima, os minúsculos pontinhos brancos enredados em si mesmos, jogando oferendas ao mar, dando pulinhos nas ondas imundas que nós mesmo poluímos, saudando a beleza que nós mesmos estamos esgotando; o que passará na sua cabeça?
Eu me despeço, eu em pedaços, como um silêncio ao contrário
Você foi tão legal comigo, tão claro e honesto. Eu só posso agradecer.
Um beijo deste seu amigo,
Eu ando bem, obrigado. Mais sozinho e menos solitário, por incrível que pareça. Estar só para mim tem sido um reencontro misterioso. Entendi, com uns trancos seus, que sempre fui assim e desisti de querer ser diferente para me enquadrar na multidão. A minha natureza sozinha, você já deve ter percebido, não faz de mim infeliz. Faltava mesmo era eu enxergar, coisa que eu fiz muito nestes seus dias sorrateiros. Obrigado, mil vezes obrigado, meu velho.
A uma hora dessas, por onde andará seu pensamento?
E você, já está de malas prontas? Deve ser difícil partir assim com hora marcada, um pouco em cada lugar do mundo e receber vários adeus, graças a Deus, ser dispensado de forma tão desumana. Em Pequim, Berlim ou aqui no Bonfim, o povo estourando espumante barato, já com a vassoura atrás da porta, com aquela cara de idiota, achando que tudo será diferente e melhor, sem qualquer esforço. Dizem que a culpa é sua das coisas não terem dado assim tão certo. Não repare, amigo, as pessoas são assim mesmo.
Saia dessa vida de migalhas
É difícil ouvir o coração da gente ao cair da tarde, especialmente porque esta é a hora mais estranha do dia, ainda não é noite e também não é mais tarde. É como ter trinta e poucos anos e sentir que chegou a hora de construir alicerces que já deveriam ter sido erguidos anos antes. É o momento que nos impõe as obrigações de preparar o terreno para a noite chegar, fazer o que tem de ser feito, as compras, o banho, colocar o lixo na rua, responder os telefonemas perdidos. Você fez isto com tanta naturalidade que me dá até inveja, sabia?
Observe tudo embaixo ser menor do que você, como tudo é
E quando aquele clarão dos fogos iluminar o céu, estaremos já meio embriagados à espera do primeiro dia de janeiro, pequenos, muito pequenos, você há de nos olhar lá de cima, os minúsculos pontinhos brancos enredados em si mesmos, jogando oferendas ao mar, dando pulinhos nas ondas imundas que nós mesmo poluímos, saudando a beleza que nós mesmos estamos esgotando; o que passará na sua cabeça?
Eu me despeço, eu em pedaços, como um silêncio ao contrário
Você foi tão legal comigo, tão claro e honesto. Eu só posso agradecer.
Um beijo deste seu amigo,